Tuesday, July 18, 2006

Sabes....
sabes

por vezes queria beijar-te
mesmo longe no espaçosei que consentirias
sei que querias
os beijos apagam o desejo
É bom sabermos quanto nos queremos

sem ousarmos sequer tocar nossos corpos
hoje tenho pena por estar longe
tenho pena de não poder percorrer teu corpo
como percorro os mapas
com os dedos teria viajado em ti

do pescoço às mão da boca ao sexo
tenho pena de não poder murmurar teu nome no escuro
acordado
perto de ti as noites seriam de ouro
e as mãos teriam guardado o sabor de teu corpo
ah minha querida
estou definitivamente só
estou preparado para o grande isolamento da noite
para o eterno anonimato da mortemas perdi o medo
a loucura assola-me
preparo a última viagem às Índias imaginadas
disseram-me que só ali se pode descansar da vida
e da morte
perscruto a razão profunda desta viagem
hesito
Sei que por muito longe que me encontre

se pousares a tua mão sobre a minha testa
senti-lo-ei
esse gesto aliviar-me-á de todas as dores
a manhã aproxima-se cortante
ouço barcos largarem do cais
preparo a lâmina
estendo velas em agonia uma lâmina de vidro
para fender as águas imperturbáveis do dia sem bússola
destruo cartas papéis manuscritos outros sinais
destruo imagens que me chamam e me querem reter aqui
releio estas poucas palavras para ti: child of the moon
debaixo das cerejeiras uma serpente antiga adormeceu
em tuas mãos de pétalas lunares
movem-se astros em cima da alba da pele
olharemos os insectos perfurarem a treva da noite
e tecerem claridades
mas não temos mais noite a desvendar
lembro-me
a cidade está cada vez mais rente à nossa separação
Ao fim de uma tarde

que o tempo se encarrega de fazer passar depressa
caminhamos em direcções opostas
ou melhor
eu caminho para norte enquanto tu voltas á tua cidade
a noite aproxima-se com seus territórios de sombra e fábula
areias penumbras oscilantes apagando resíduos de corpos
teu corpo minúsculo arrefece dentro de mim
quando as feras despertam nos olhos abandono-me
à lama colorida dos terrenos vagos
dói-me a voz ao chegar aos lábios
os dedos penetram o metal
cintilam conchas abertas ao sonho
onde terei abandonado a nossa paixão?

1 comment:

Labirinto de Emoções said...

Fiquei sem palavras... sem folego...é um dos textos sobre saudades mais bonitos e dolorosos que já li!

Creio que se esta maravilhosa declaração de amor me fosse dirigida, eu voava de novo para mergulhar no carinho das tuas mãos e aninhar-me no teu coração.

Parabens, este blogue é uma verdadeiro Vendaval de Emoções...

Beijito