Thursday, March 16, 2006

Escuta

Deixa que a luz penetre,
Até ao íntimo do teu coração
E aí...
Escuta bem estas palavras:
Não tapes os ouvidos,
Não temas seus convites,
Talvez esperes de uma resposta,
E quem sabe se dependerá da tua resposta,
O encontro com a felicidade,
Que há tanto buscas e não encontras...
Experimenta,
E verás que a verdadeira felicidade só em ti se encontra
Navego Num Mar de Irinias

Estou perdido...navego num mar de ironias e contradições...Tanto estou feliz como de seguida caio numa tristeza tão profunda que o único alívio que tenho são as lágrimas secas... E choro para dentro de mim... Afinal eu estou apaixonado!
Mas é no choro de lagrimas secas que encontro a minha paz. É assim que consigo levantar novamente a cabeça e seguir em frente...Irónico dirás... Mas é a mais pura das verdades! Quando choro é como se lavasse a minha alma e eliminasse em cada gota um pedaço de melancolia...
Muitos pensam que chorar é uma fraqueza. Muitos pensam que mostrar sentimentos em público é completamente absurdo. Muitos aproveitam-se dos "fracos" que tem a distinta lata de mostrar que sentem, amam, sofrem, choram, riem...
Pois é... os fracos (sim desta vez é sem aspas) são todos os outros, não eu! Aqueles que pensam que esconder sentimentos é uma força? Eu digo, e acreditem se quiserem, que é necessário uma coragem imensa para AMAR! Amar alguém, e não me refiro apenas a paixões entre homem e mulher, implica muitos sacrifícios, muitas desilusões, muitos revés... Mas ao mesmo tempo faz-me sentir dono do mundo, dá-me uma alegria tão grande que às vezes só gritando ao vento é que consigo não explodir... Irónico...não achas?
Todos nós já amamos... De certeza que todos nós já amamos, pelo menos amamos os pais... filhos... mas quantos de nós estão dispostos a proclamá-lo alto e bom som? (endoideceu...interrogam-se todos neste momento...). Não, não estou doido... Atrevam-se...e sintam a leveza do ar a entrar no vosso coração! Sintam o peso de um segredo a desaparecer miraculosamente dos vossos ombros! Partilhem esse amor com o mundo e sintam-se felizes pelo simples facto de estarem vivos!
Eu atrevi-me...e agora sofro...e rejubilo...depende... Ás vezes chega um pedaço de uma palavra para me apetecer chorar... outras um breve passar de imagens na minha mente chega para me fazer rir... Contradições...
Mas de uma coisa tenho a certeza...Não vou negar mais este amor que me assola, que me leva aos píncaros de sentimentos tão extremos, que me faz sentir novamente VIVO! Pelo menos não o vou negar a mim... Irónico... não?
Escrevi.
Porque é que eu precisava de escrever sobre a desilusão? Porque é que eu precisava desse gesto egoísta?
Porque quando a dor me atravessou, quando aquele amor principiava a doer no choro, eu tive a certeza que não poderia manter-me naquele abismo. Aquele abismo que separava aquilo que eu sentia por ela, daquilo que ela sentia por mim.
Eu sabia que tinha de aniquilar aquele amor. Mata-lo. E para o matar, eu só conseguia imaginar uma forma possível de o fazer: quebrar a beleza e o fascínio daquela relação, quebrar os laços de afecto e ternura. E para o fazer eu tinha de destruir a imagem dela dentro de mim. Tinha de destruir a pessoa dela dentro de mim, para poder matar o amor.

A sedução.

A sedução é apenas um convite. Um convite ao abandono mútuo. É o abandonarmo-nos na esperança que mais tarde iremos recuperar esse bocadinho de nós que se foi. Obviamente no outro. É uma espécie de troca directa, entre mercadorias perdidas.
Seduzir é dizer ao outro que temos algo que a ela lhe falta. É estar pronto a dar esse pouco. É, ao mesmo tempo, uma troca; é pedir ao outro aquilo que nos falta. Às vezes, só o corpo. É por isso, que vemos casais por uma única noite. Foi apenas uma transação comercial, não de numerário, mas de carências afectivas. Ele deu, ela aceitou. E vice-versa.
Seduzir é também um jogo. Um jogo de experimentação. É um experimentar de poder - quem tem mais para dar? quem tem mais necessidade de perceber? É um jogo de poder onde um tenta dominar o outro, conquista-lo.
Seduzir é recarregar as baterias do ego. Uma necessidade do egoísta.
Não se cai em contradição quando se diz que, seduzir é um abandono de si mesmo, e ao mesmo tempo, uma necessidade do egoísta. Seduzir, é uma necessidade do egoísta cuja única linguagem que ele entende é obrigatoriamente a do abandono de si mesmo.O egoísta só pode satisfazer a sua necessidade de afecto, se experimentar esse abandono de si mesmo. Apenas porque ele entra em confronto, seduz, outro egoísta. E assim, ambos têm de abandonar-se. Seduzir-se mutuamente.
Tinha uma ave. Uma ave capaz de atravessar os céus.Apenas uma metáfora. A metáfora milenar da liberdade.
Amar plenamente é a prova imaginável e única do altruísmo. Um altruísmo enganoso, obviamente. É o abandonarmo-nos totalmente a outro por uma necessidade interior. Que é a absorção do outro. E, para isso, só nos é possível utilizar uma única linguagem: a do abandono de nós mesmos. A mesma troca de mercadoria, a mesma exaltação do jogo do poder. Dar o que se tem, para receber o que se quer. Esta a lógica mais equalitária. A do egoísta, dar-se o mínimo para receber o máximo.
O egoísmo não é um defeito. O egoísmo também não é uma virtude.
Ser egoísta é como ter dois braços, duas pernas, uma cabeça, olhos, nariz, e boca. É hereditário. Nem é um defeito de fabrico. Talvez seja primitivo para a nossa sociedade civilizada. É inato, como o nosso instinto de sobrevivência.Nem sequer nos é permitido fugir ao egoísmo. Qualquer opção que se faça, mesmo que isso beneficie alguém que não nós mesmos, é uma opção do eu. Uma opção do ego. Optar, escolher, decidir, são acções que remetem ao ego, ao egoísmo.
Amar plenamente é a única prova do altruísmo. Do egoísmo mascarado.
O arrependimento é mais uma prova do egoísmo.
É indiferente se nos arrependemos de ter feito o bem, ou de termos feito o mal. O arrependimento é um olhar para dentro, para o ego. Quando nos arrependemos de ter feito mal a alguém, não nos preocupámos com o sofrimento do outro, ou se nos preocupamos, só o fazemos porque também sofremos com esse sofrimento alheio. Pesa-nos a ideia de sermos nós os desencadeadores desse sofrimento. Arrependermo-nos, é tentarmos expulsar do ego esse constrangimento. É o único modo de mascarar um erro, e fá-lo pelo processo de experimentação que é o da aprendizagem. O aprender da perda.
O egoísmo foi perjurado.O egoísmo é a prova da adaptação do homem à cultura da civilização ocidental.O egoísmo é a forma do homem se transformar em ave. De atravessar os céus. É a sua metáfora da liberdade.
O egoísmo é a solidificação da individualidade. É isso que impede o homem de se diluir na multidão. É a sua garantia de ser único e insubstituível. E isso torna-o um ser potencialmente amado.As pessoas de grande personalidade, de grande carisma, são por um lado as mais egoístas, e por outro lado, as que melhor praticam o egoísmo mascarado
Cicatrizes

Olho-me ao espelho enquanto escovo os dentes, desfaço a barba e penteio os cabelos. Dou-me conta que já moro neste rosto há muito tempo, lembranças, passado. Tenho algumas cicatrizes perto da boca que o espelho não mostra, de palavras que disse, ásperas, duras, expurgando demónios.Que espelho é este, meu Deus, que não lhe mostra nada e me devolve em pedaços?
Ver-me... mas ainda vejo... perto destas cicatrizes pequenas, há outras, maiores, que a insónia sempre redimensiona... estas, das palavras que não disse, as que engasgam em cada tropeço de felicidade, as palavras que penso, as que projecto, as que senti e as que ficaram trancadas na boca, formando sulcos...
Num milésimo de segundo lembro a sensualidade de algumas palavras...e no impulso da hora, tiro a roupa. Olho-me inteiro, acabo criticando, através... Por que o espelho não me dá aquele talho na perna? O que há com estes espelhos? Mas o talho esta lá, eu pude sentir...ele se fez daquela vez em que não obedeceu ao impulso de partir, não ouvi sua vontade de caminhar ao encontro do que achava, ainda, possível...e sempre que escuto as velhinhas na calçada, falando que vai chover, o meu talho arde, como um reumatismo precoce, cobrando os atalhos que usou e os caminhos que não conheceu...
Este corpo que visto... ainda me presenteia sensações, energia... aquela sensualidade crua ainda me faz visitas... Penteio os cabelos... na mão uma queimadura discreta. Onde foi que a ganhei? Lembro-me bem... mas não interessa para o caso. A sobrancelha mostra ainda as marcas da traquinice de menino, do inventor e do audaz. São tantas marcas. Olho-me de novo...sorrio sem querer...Vejo que a vida há já muito me roubou a juventude.
E então, visto-me, num ritual vagaroso e apreciativo. Em cada marca mora um pedaço de mim: pequeno, grande, estriado, não importa...e em cada um exibo-me.
Parto sempre com um sorriso. Uma frase ‘Vai... vai... enfrenta o mundo.’
Afinal, o que há com estes espelhos?
Paciência
Tenho andado muito calado... Apetece-me estar calado... Quando não se tem nada de novo a dizer é o melhor a fazer... Afinal estou perdido. Estou mesmo perdido.
Vou escrevendo... umas vezes com algum sentido... outras nem por isso.
Um caracol entrou na minha vida...e até estou a ser benevolente em não dizer um caranguejo... Explicando... Sabes o que é andar tão devagar tão devagar tão devagar que parece que não se sai do mesmo sítio? É assim que eu me sinto nesta relação com vida... Tenho que admitir que existem melhorias... Mas são tão ligeiras que mal se notam! E eu sempre fui apologista das grandes mudanças, das mudanças radicais. O marasmo desta vida está a perturbar o meu sentido de orientação. Hoje mesmo não me percebo. Será que isto me acontece porque me apaixonei?
Paciência é a palavra de ordem neste dias que correm... que raio de palavra, de qualidade para se invocar numa altura destas...! Apre! Não podia ser antes loucura? Paixão? Amor? Raiva? Algo que significasse e implicasse acção? Tinha que ser algo tão monótono como paciência? Se há qualidade que me irrita profundamente é esta... aquelas pessoas sofredoras que preferem esperar para ver do que agir, gritar e estrebuchar...deixam-me zangado e estupidamente confuso... É aquele tipo de coisas que diferencia os santos dos demónios...e eu sinceramente prefiro a segunda hipótese...
Nunca fui muito paciente. Sempre fui do tipo de querer tudo rapidamente, mas que também sabe esperar. Ter que esperar para ver, não participar, não lutar, não é mesmo comigo. Comigo ou é ou não é... E agora, 46 anos depois de ter vindo ao mundo, é que tenho que saber esperar? E que faço eu com toda a bagagem que fui acumulando ao longo deste tempo todo e que me ensinou a não esperar porque se desespera? Como ajo agora? Esqueço todos os velhos hábitos e procuro ser paciente? É que eu até tenho andado a tentar... E pareço uma avestruz a tentar dançar balet... É mesmo de morrer a rir! Quem está de fora a observar está mesmo a gozar o pratinho...
Na realidade estou a desgastar-me à velocidade da luz...Como mal, durmo mal, tenho pesadelos e sonhos absurdos, ando irritadiço, calado, muito pouco condescendente e mais uma série de coisas dignas de novela mexicana dobrada por brasileiros que nem português correcto sabem falar...Tanto estou eufórico como completamente em baixo, alegre/ triste, simpático/ antipático, tímido/ atrevido, brincalhão/ sério que nem abade em dia de missa... É uma montanha russa autêntica com loopings e parafusos num nunca mais acabar de voltas pois alguém se esqueceu onde era o botão de desligar... E já estou com vontade de vomitar pois não há estômago que aguente tanta reviravolta... e não tarda muito aproveito uma daquelas alturas em que estou de cabeça para baixo e desaperto o cinto de segurança que me prende ao assento e deixo-me cair...
O que me aborrece é que eu a adoro. Gosto muito dela. Caí que nem um patinho. Apaixonei-me loucamente. Simplesmente quero que isto não acabe nunca. Ficar com ela mesmo que seja aos bocadinhos, longe ou perto, isso é o que me interessa. E sempre que penso em mandar tudo às urtigas fico ainda pior do que uma série de 3 voltas ao quarteirão... Sou fisicamente e psicologicamente incapaz de o fazer...
Paciência...Dai-me paciência...
Juro que já não me entendo... Uma coisa eu sei... Vou lutar até ao fim. Quero lutar porque gosto muito dela e não a quero perder.
Perceber isto já é um exercício de paciência.
A censura

A censura da consciência pesa pouco diante deste pensamento.
Uma palavra, uma careta, um olhar frio é suficiente para remeter qualquer pensador ao seu isolamento mais profundo.
O que sabemos de nós próprios, o que os outros sabem de nós, o que a nossa memória reteve, não é decisivo para a nossa felicidade.
Dou-me conta que a opinião essa sim é forte e poderosa.
Todos ficamos sempre melhor com a má consciência do que com a má reputação
O que vejo eu...
Vejo-te sair do mar, dourada, húmida, atenta ao clamor silencioso que produzia a tua imagem.Não esquecerei o teu corpo nu. A memória faz-me voltar, todas as tardes à praia onde a espuma te queria acariciar os joelhos dulcíssimos, onde o sol beijou o teu corpo nu. E recrio-te no ar, parado.
Não esqueço o teu corpo desejável, as tuas coxas reluzentes, os teus seios ... Não esqueço o calor do corpo... Não esqueço...

Entreguei-me às esferas áridas, frias, das ideias, buscando o refúgio que a tua pele agora não me oferece. Nesta ria, onde os moliceiros sobem e descem, onde os pescadores dão banho á minhoca na esperança de uma boa pescaria, fico sonhando uma praia distante.
Vejo-te agora também, deslumbrante e doce. Quero apagar por momentos a tua imagem. Mas em vão.
Não esqueço o teu corpo de água ardendo.
Não esqueço o momento.
Nos livros, onde tento refugiar-me, não vejo mais do que as tuas linhas.
Segredos

Segredos são beijos ternos que suavemente se segredam ao ouvido a quem nós queremos que nos conheça e nos ame...
Poemas são o mar da vida que derramamos no papel, como a onda que beija a praia em que nos confessa seus amores em cada maré.
É como o oceano, vivemos entre algumas tempestades e acalmías, seremos felizes portanto apenas por navegar, porque só quando chove e faz sol vemos o arco iris feito muitas vezes com a água das nossas próprias lagrimas e com o brilho do sol que todos trazemos na alma...
Pensamento
Amor é o que foi e ainda o que está para vir.

É querer alguém, deseja-la e possuí-la.
É viajar através de obstáculos, ultrapassando-os e nunca deixando que eles nos passem à frente.
É a vontade de ir ao encontro do outro: meigo alegre e compreensivo.
Devastação...
Falta-nos uma alma desejada e tudo fica despovoado, num silêncio afogado dos nossos choros em espasmos de soluços...
Talvez sejamos felizes quando nos completarmos a nós próprios.
Até lá, as lágrimas continuarão a escorrer.
Zezinho