Thursday, November 17, 2005

O momento
Falta no máximo meia hora para que a noite acabe; ainda tenho algum tempo. O Sol não deve tardar aí. Começa-se agora a notar aquela estranha claridade que anuncia o nascer do dia. Olho á volta. Ali o mar e as dunas. Do outro lado a ria. Tudo é belo nesta estranha claridade. Suspiro e fecho levemente os olhos, tento rever aquela imagem no meu cérebro. Tão belo! Volto-me para dentro e sento-me de pernas cruzadas no centro de mim próprio. Fico uns momentos assim, de olhos fechados, meditando. Sinto o calor do teu olhar, o cheiro do teu corpo... estou aqui contigo.
O frio e a humidade são medonhos, atravessam-me os ossos. Abro de novo os olhos. O silêncio é total, mas eu sinto que o sol está de volta. Tenho pouco tempo, agora. Erguendo a voz bem alto, eu falo, certo de que alguém me olha e me ouve. " Perdoa-me, minha querida! É teu o meu coração (bem o sabes), mas a minha alma está geminada à do Sol — não há nada a fazer..."
Volto a olhar para dentro de mim. Em alguns instantes apenas, o espectro azul estará aqui. Na solidão adimensional do Limbo, revejo os momentos, a história de umas horas. Nunca serei capaz de ultrapassar o momento.
Quando o meu espírito recupera do vazio anil em que se encontrava, o Sol já nasceu. À minha frente, já não está a linda mulher de azul. Estou apenas eu e o mar, o sol e a ria.
Estou feliz, mas não consigo mais do que sorrir levemente: os músculos da minha face não respondem; também não sinto o corpo...
... mas estou feliz.

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